19 de agosto de 2009

Entrevista com Zé Eduardo Nazário

Em meio a pólvora e poesia, Nazário conta como foi lançar o primeiro álbum instrumental independente no Brasil

O período militar brasileiro, que assolou a produção cultural no final dos anos 1960, tornou exígua qualquer esperança de se fazer música que não habitasse os territórios consentidos pelo governo. A repreensão foi sentida principalmente por artistas experimentais, vindos da música instrumental. 

Com a censura consolidada, muitos foram obrigados a criar frutos em terras estrangeiras.O baterista e compositor Zé Eduardo Nazário (indicado ao Grammy na categoria “best jazz performance”, depois de atuar com Hermeto Pascoal e Egberto Gismont), foi um dos que souberam aproveitar a herança dos mestres exilados para derrubar os muros que embargavam a música brasileira – lançando, junto ao Grupo Um, a primeira obra instrumental independente produzida no país. O disco Marcha Sobre a Cidade, de 1979.

Como foi lançar uma obra experimental numa época de censura irrestrita?

O Grupo Um encontrou um caminho muito difícil. Não havia mercado para música experimental no Brasil. Concluímos que era preciso produzir um disco independente. Assim lançamos Marcha Sobre a Cidade.

Ser precursor da música instrumental independente, em plena ditadura, não é pouca coisa. 
Já havia música instrumental, mas não independente, experimental, de vanguarda. Ainda mais com o AI-5, em 1968, quando arrasaram tudo. Os músicos partiram para EUA e Europa. Não sobrou ninguém. Reconstruímos a música a partir de uma terra devastada, que colocou a novela em primeiro lugar. O povo ficava em casa, fadado a assistir televisão, com medo de sair às ruas. Foi a realidade que vivemos, de passar em “pente-fino” todas as noites, quando íamos tocar. O exército bloqueava as ruas, revistava todo mundo. Se não fossem com sua cara, metiam uma bala na cabeça e pronto.

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