3 de maio de 2012

As flores frias do amor


Marco saía do bosque e, ainda noturno, sentou-se no declive para esperar o sol nascer. Diante dele, estendia-se a relva úmida, onde havia flores de todas as cores e névoas de todos os reflexos.  Marco esperava a felicidade, confiante, a pensar que ela viria como o pousar de um enxame e que tudo, para ele, já estava a caminho.

Apanhou flores e desceu ao fim da colina, em direção às fontes, para nelas molhar o rosto e mirar-se no espelho das águas. Voltou-se, rumo a casa, onde Luiza ainda despertava, sozinha.

- Veja, são flores do bosque. Elas vivem na sombra. Colhi-as para você. Venha comigo!

Luiza sorriu atenciosa. Marco tomou-a pela mão e caminharam até a relva. Sonhavam com o amor, temiam a posse, aprendiam confidências. As perguntas eram desejos, a satisfação eram respostas. 

As noites vinham sem sono, tão belas que nem fechavam as janelasDormiam assim, à luz da lua, com uma trepadeira de rosas envolvendo a janela, derramando alguns ramos para dentro do quarto. O amor fazia-os dormir bem tarde e acordavam com torpor.

As horas corriam depressa e viver já não era como antes. Logo se cansaram de descer ao bosque e, por mais que Luiza implorasse, Marco não mais contava a história dos jardins suspensos na planície. Não iam sequer passear pelos campos.

Colheram cedo demais toda flor desejável. Entediaram-se junto ao sol. 

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